domingo, 14 de setembro de 2014

Tudo a seu tempo



Quando Miguel fez 2 anos, compramos um triciclo que vira biciclo quando a criança adquire as habilidades necessárias.

É um brinquedo lindo e genial, pois permite à criança aprender a andar de bicicleta através de seu próprio equilíbrio, tentativa e erro, evitando a fase das rodinhas.

Só que o Miguel nunca deu a menor bolo pra esse brinquedo. Sequer tentou montá-lo quando ganhou. As crianças que vêm em casa adoram, querem testar, mas pro Miguel não fazia a menor diferença.

Pois não é que perto dos 3 anos ganhou um capacete do pai, que também usa e vai pro trampo de bici, e aí deu pra querer andar de triciclo, dizendo, com o capacete na cabeça: “vou trabalhar”.

Tudo a seu tempo. Nós é que criamos a expectativa, e somos tão imediatistas que esperamos que os filhos ultrapassem fases, e interesses, como se estivessem numa prova de obstáculos.

Há tanto a aprender! Com a comida tive, e ainda tenho, um grande aprendizado. Miguel só começou a comer com um ano e meio e havia coisas que não comia e pronto!

A espera que vivi até que ele começasse a comer me obrigou a reduzir a zero as expectativas e aceitar que ele fosse como é. Um livro que me ajudou muito foi “Mi niño no me come”, do pediatra espanhol Carlos Gonzales, que recomendo com veemência tamanho o respeito pelo outro que nos mostra.

Essa leveza no comer, em não obrigar, pedir nem esperar que ele coma resultou em um menino apreciador de tapioca, pepino, beterraba, aceto balsâmico, tahine com mel, yogurt, vagem, couve, omelete, peixe cru e muitas outras coisas que em nem poderia sonhar! Ha outras que não come, não quer provar, e pronto. Uma delas era banana.

Pois não é que há mais ou menos dois meses uma amiga com as filhas gêmeas estava em casa e entre os conflitos surgidos com o tema da posse dos brinquedos, cuja maioria era do Miguel, ela ofereceu banana às meninas e, como forma de aproximação, ele pediu banana, comeu várias e desde então faz parte do seu cardápio.

Assim também com livros, discos, brinquedos para os quais ele não ligava, não queria ouvir, ver, brincar. Com o tempo interessou-se e passou a apreciar.


A expectativa é minha. Acreditar no meu filho e no seu crescimento e amadurecimento é um desafio diário, mas cheio de recompensas.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Amar sem julgar


Não precisa chorar por isso”. Quem define se algo é ou não motivo para chorar senão a pessoa que o vivencia?

Mas quantas vezes julgamos as reações de nossos filhos e decidimos que algo não é motivo suficiente para a reação que presenciamos.

Julgar. Julgamos o tempo todo. E nomeamos o nosso veredito sem dó, piedade ou censura.

Lembro-me de ser sempre chamada de resmungona. Me sentia tão agredida! E incompreendida. Tudo o que eu queria era amor e atenção. Mas recebia mais rejeição. Resultado: mais comportamento indesejado, num ciclo vicioso que me fez muito mal, arruinou relações e marcou negativamente minha vida por muito tempo.

Ainda não consegui colocar o limite em familiares que exclamam para o Miguel: “Por que você está resmungando?” Resmungando!? Ele está apenas expressando sua insatisfação. Como é difícil lidar com a dor do outro.

Certa vez, depois de passar alguns dias com familiares, uma pessoa observou sobre o Miguel: “Como ele é mal humorado. Como muda de humor.”, ao que eu respondia: “Como todo mundo!”

Como todo mundo, poxa! Todo mundo tem oscilações de humor. Aprendemos a controlar, a disfarçar, mas não somos seres de bem com a vida cem por cento do tempo.

As crianças expressam isso claramente, são transparentes, não aprenderam a usar filtros sociais. Que bom!


Amar e aceitar as crianças por inteiro, nos momentos bons e nos ruins. Isso é amor incondicional.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Mudanças

Todos passamos por mudanças. Quero falar das mudanças profissionais que vivi. Escolhi a faculdade de direito para adiar a escolha da profissão, pois ela me abria muitas portas no futuro. Na faculdade não tinha ideia do que queria fazer e me admirava com as certezas e objetivos de muitos colegas. Fui parar em um escritório de advocacia de médio porte mas com grandes pretensões.

Estava no 4o ano de faculdade, cheia de energia, tempo e disponibilidade. Me destaquei, me entreguei, me alienei ali. Apesar de militar no movimento estudantil, não tinha discernimento para perceber onde havia me metido, a quem servia dentro da advocacia empresarial. Só conseguia ver meus êxitos profissionais, aumento de poder, independência financeira. Mas isso nada tinha a ver com minha essência. Era mais uma agressão e uma negação. Tive labirintite crônica e, por fim, depressão. Algo em mim pulsava, batia, queria explodir. Então bolei um plano e saí dali após sete anos de dedicação e o convite para me tornar sócia. Mas para onde ir?

Bati a cabeça, abri meu escritório, que nada mais era do que repetir um modelo no qual eu não acreditava. Mas eu não sabia. Meu objetivo era me sustentar, ganhar dinheiro, estar no mercado, me destacar profissionalmente. Que sabia eu do mundo? Que sabia eu de mim? E essa sociedade também naufragou.

Fui trabalhar em uma ONG de defesa do consumidor e dar aulas. Estava mais próxima de mim, de satisfazer outras necessidades como fazer o bem, trabalhar em algo em que acreditava, trocar com pessoas que lutavam por um mundo melhor, mais justo. Pude ver e atuar a partir de um outro paradigma, muito diferente daquele em que estava inserida até então. Mas aqui também havia muito trabalho e muita alienação, muito tempo dedicado a coisas pouco prazerosas, aborrecidas até. Então busquei uma fuga num mestrado fora do Brasil.

Fui estudar outra área - política social e desenvolvimento -, aperfeiçoar o inglês, mudar de realidade. Mais um novo mundo se abria. Saí da “caixinha” do direito, deixei de ver o mundo a partir dele. Voltei para trabalhar em outra ONG, com políticas públicas, advocacy, defender a saúde, firmar parcerias com pessoas e instituições que também queriam mudar o mundo, o sistema. Brigar por grandes ideais, ouvir novas ideias, formar redes, repensar o planeta, o Brasil, a minha casa, a minha vida. Trabalhar com pessoas incríveis a partir de um paradigma oposto ao do primeiro emprego: de confiança no outro, de responsabilidade, de colaboração, de cuidado, de companheirismo, de amizade.

Mas ainda havia uma insatisfação, uma pedra incomodando no sapato, um certo desprazer em algum ponto. E foi aí que me chegou a maternidade. E com ela outros contatos, outros saberes, outras vivências, outras pessoas.

E como contei em outro post, não podia mais lutar contra o mundo, contra as injustiças, contra os poderes instituídos, contra as forças políticas e econômicas. Não acreditava mais na mudança externa. Era dentro de mim que a mudança fazia sentido. Era eu que precisava mudar. E era na relação com meu filho, em cuidá-lo, amá-lo, me dedicar a ele, era aí que estava a grande revolução. A mudança real do mundo.

Deixei de acreditar na mudança do sistema a partir do próprio sistema, de suas armas e seus instrumentos. Acredito na minha mudança, é sobre ela que posso agir. A partir daí muda-se o mundo, mas é a partir daí. Essa opção me deixa muita mais próxima da minha essência, essência essa que tive que dar a “volta ao mundo” para encontrar, que ainda estou descobrindo, que me custará a vida para alcançar, mas que agora está palpável como um objetivo a ser atingido.


A maternidade me trouxe essa dimensão do autoconhecimento e são muitos os caminhos que têm se aberto pra mim. E é maravilhoso estar viva e poder desfrutar dessa revolução que tenho produzido. É só o começo do caminho.

sábado, 14 de junho de 2014

(Re)Aprendendo o tempo todo


Às vezes chegamos a um lugar em que nos sentimos seguras, donas da situação: sei lidar com meu filho, sei como ele age e reage, sei o que fazer e o que não fazer. E o retorno parece certeiro, principalmente aos olhos de outras pessoas que comentam como ele é tranquilo, “bonzinho”, fácil de lidar. É aí que mora o perigo. Sim, pois é muito fácil, a partir daí, “ligar o automático” e se esquecer de estar presente e conectada de fato. É como se estivesse tudo “sob controle”, e então o caos se instala.

Os últimos foram dias difíceis. Muitas mudanças: desmame, mudança de casa. Nos últimos 10 dias dei muito pouca atenção ao Miguel, isso depois de passarmos por um desmame doloroso, muito sentido por ele que, até hoje, pede pra mamar.

Pois sofri as consequências de achar que estava tudo sob controle e de me “ausentar” da relação. Miguel era outra criança: irritado, choroso, querendo só colo, pouco colaborativo, mandão, teimoso, indócil, insatisfeito, agressivo até.

Tive que voltar ao chão, retomar o contato, parar tudo e olhá-lo, ouvi-lo, afagá-lo. E era tudo tão óbvio, tão evidente que o “caminho mais fácil” é o mais difícil, que evitar “perder tempo” no meio da mudança para estar de fato com ele implicaria em perda de tempo real tentando apaziguar os ânimos, meu e dele.

É um reaprendizado diário, um lembrete contínuo de que não se deve descuidar da presença, do carinho, da atenção, do amor.

Foi essa a lição que esses dias me trouxeram: a conexão nossa de cada dia, todo dia, sem acomodação nem descuido.

domingo, 1 de junho de 2014

Viver bem hoje


Uma coisa que aprendi com a maternidade é que construímos a relação no agora. É o que vivemos hoje que criará um passado agradável e saudoso, ou não. É como vivemos hoje que criará um futuro saudável e harmônico, ou não.

A nossa relação é hoje. É aqui e agora. O surgimento de conflitos e a forma como o solucionamos são fundamentais para que hoje seja um dia prazeroso, que deixará saudades e resultará em pessoas seguras e relações felizes.

Encaro meu filho como alguém que tem vontades e desejos que são diferentes dos meus. Por que a minha vontade, o meu desejo, deve prevalecer? Por que devo brigar e obrigar meu filho a fazer o que eu quero? Por que devo exigir que ele seja como eu espero e haja como eu idealizo?

Quando me dou conta de que há uma outra pessoa com quem estou me relacionando, independente de sermos mãe e filho, de eu ser mais forte do que ele em muitos sentidos, passo a respeitá-lo de igual pra igual, entendê-lo, incluí-lo, ouvi-lo. Isso faz toda a diferença pois que nas situações em que uma mãe ou pai normalmente faria incidir sua vontade, por bem ou por mal, eu paro e busco aceitar o que ele me propõe.

Agora mesmo ele está com a fralda cheia de cocô. Já há tempos não aceita mais trocá-la com a facilidade de antes. Acredito ter relação direta com minhas negativas em dar-lhe “mamá” e, recentemente, com o desmame total pelo qual passamos. Ele também quer colocar seus limites. Esse é um. Não quer trocar a fralda de cocô. E pronto.

É uma situação muito difícil porque cheira mal, pode assar, vazar. Busco respeitar. Confesso que já o peguei a força e foi terrível. Pra ele e pra mim. Então, se posso esperar pelo seu tempo, faço isso para o bem da nossa relação.

Houve um tempo em que ele subia sozinho no carro mas não queria sentar-se em sua cadeirinha. Preferia explorar o interior do carro. Por duas vezes ele se negou terminantemente. Íamos à praça do coco. Eu disse que estávamos indo pra lá, perguntei se queria ir, ele confirmou, eu então disse que pra irmos ele precisaria sentar-se na cadeirinha. Mas ele se negava. E não fomos! Eu me frustrei porque queria ir, pra mim é também um programa muito prazeroso, mas não podia pegá-lo a força, amarrar na cadeirinha e sair com ele chorando, agredido, desrespeitado. A partir disso ele compreendeu que só saímos de carro se ele se sentar na cadeirinha. E ele está muito mais colaborativo com relação a isso.

Se há situações em que ele não quer sentar na cadeirinha de forma alguma e temos que ir a algum lugar, aviso que vou pegá-lo. Acredito que ele entenda que é uma situação limite, então me diz que não o pegue, que ele vai se sentar sozinho. São situações excepcionais. A regra é aguardar seu tempo.

Ele percebe que suas escolhas são respeitadas, mas que há situações em que vale a minha palavra. Não porque sou sua mãe, porque mando nele, porque ele deve me obedecer, mas porque tenho mais experiência do que ele, cheguei antes nesse planeta e meu dever é cuidar dele.

Acontece o mesmo com situações perigosas. Em geral somos, digamos, cuca fresca, deixamos que ele se arrisque, se desafie, se supere. Estamos sempre junto, atentos, observando suas aventuras. Mas há vezes em que a situação é perigosa, entra no nosso limite do quanto queremos arriscar, e aí colocamos o limite que, em geral, se dá de forma muito tranquila.

E assim, percebendo o Miguel como um outro que tem desejos e vontades, aceitando isso, flexibilizando, abrindo mão das minhas expectativas, podemos viver de forma mais harmônica hoje, criando um passado e um futuro mais felizes.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Mamar e desmamar


Miguel nasceu numa 6a feira. Meu leite desceu na 2a. Na 3a ele desaprendeu a mamar.

Foram dias terríveis, com idas e vindas a pediatras, fonoaudióloga, visita de especialista em amamentação, até que ele reaprendesse a mamar, uma semana depois.

Chorei loucamente nesses dias. Ele também, de fome.

Tempos depois pude entender: esse episódio me trouxe para a maternidade. Foi preciso que meu bebê não se alimentasse para eu me desligar do mundo externo e me voltar para o interno. Inicialmente tratei o nascimento como mais um fato da vida, vida essa que deveria seguir do mesmo modo, cheia de amigos, visitas, eventos sociais, compromissos.

Mas a maternidade requer conexão, silêncio, estar a sós, conhecer-se com profundidade, regar o amor, entregar-se. Foi o que meu filho me fez ver e viver.

A amamentação passou a ser nossa principal forma de conexão. E virou um pouco a minha muleta. Tudo se resolvia com ela.

Logo descobrimos o tumor do Tiago e houve uma reviravolta no puerpério. As atenções se voltaram para a cirurgia e tratamento e mais uma vez a amamentação desempenhou papel fundamental para que eu pudesse segurar a onda.

Minhas questões alimentares, meu medo de não conseguir alimentar meu filho, apropriar-me do cuidar e do fazer o alimento, retardaram muito seu interesse e necessidade de comer. Só com um ano e meio a alimentação se estabeleceu de fato.

E mais uma vez a amamentação nos salvou, me deu tempo para me sentir segura com o tema da comida e manteve Miguel saudável.

Por mais de um ano ele acordou seis, sete, oito, DEZ vezes à noite pra mamar. E sempre mamou intensamente durante o dia. Comecei a me cansar, a me incomodar.

Tentativas inicialmente bem sucedidas de reduzir as mamadas noturnas logo desandaram.

Precisei de tempo e força para colocar limites nas mamadas diurnas. Há poucos meses, depois da “farra do peito” em que as festas de fim de ano se transformaram, tive forças para reduzi-las a quatro por dia.

Mesmo assim me sentia esgotada e o desejo de desmamá-lo aumentava.

Me dei conta de que o desmame gradual não funcionava mais. Chegara no meu limite.

Todas as mamadas remanescentes eram importantes, esperadas e desfrutadas por ele. Cada vez mais eu cedia um “golinho” aqui, outro acolá, fora das mamadas já delimitadas.

Então, depois de prepará-lo por alguns dias, domingo, 18/5, foi o último dia do “mamá”.

Segunda foi um dia duro. Miguel fez cocô três vezes. Defecar é uma forma de liberar a tensão. Está também relacionado ao sentimento de medo.

À noite ele chorou muito. Havia revolta, tristeza e frustração. Pediu muito pra mamar. Eu e meu marido choramos também.

Nomeei seus sentimentos de raiva, tristeza e frustração pelo fim do “mamá”. Acrescentei que pra mim já não dava mais, que estava cansada, que ele é um meninão, que ninguém mama pra sempre, e que esse era o limite da mamãe. E que o amava muito, que ele é meu filho amado e que podemos nos amar e nos conectar de muitas outras formas.

Na 3a feira Miguel acordou resfriado. Foi mais um dia difícil. Muitos “nãos” afirmados por ele. E muitos pedidos para mamar.

À noite Tiago dormiu com Miguel. Foi uma decisão sua. Miguel queria dormir comigo e eu prontamente concordei. Culpa. Mas Tiago disse que não, era a sua noite e ele queria e iria assumir esse papel. Quanta gratidão pelo meu marido.

Foi maravilhoso. Eu descansei. Miguel chorou pouco, quase não acordou. Pela manhã chorou mais, pediu muito. Ficamos abraçados, fiz muito carinho nele, reconheci seus sentimentos, o amei muito. Ele se acalmou, dormiu mais um pouco.

Dócil pela manhã, porém, na hora habitual da soneca da tarde fez-se um grande luto. Ele chorou, se feriu propositalmente, fechou-se no banheiro, chorava, abria a porta para ver se eu o velava do lado de fora, pedia pra eu abrir a porta, não me deixava entrar, chorava.

Fomos para seu quarto. Chorou mais. Agressivo. Queria me bater. Queria se bater. Foi duro. Aguentei firme. Lado a lado. Acolhimento.

À tarde, novo choro. Saímos e ele caiu muito, estava muito vulnerável.

Porém, na hora de dormir, deitamos juntos, lemos. Ele bebeu água, revirou-se pra cá, revirou-se pra lá. Dormiu. Não pediu pra mamar.

Filho forte. Vivendo intensamente sua primeira grande perda. Estamos do seu lado, aprendendo que as pessoas têm limites. Eu tenho limite. A mãe tem limite. Ele já pode reconhecer seus limites.

Também tive dúvidas. Seu choro me doeu muito. Lembrei-me de ler que há culturas em que é inconcebível deixar um filho chorar. E eu ali, fazendo meu filho chorar. Mas depois compreendi que não o estava deixando chorar. Coloquei um limite meu, que preciso reconhecer e validar. Isso o frustrou, feriu. Mas eu o acolhi. Fiquei ao seu lado.

E pude perceber que agora somos nós, não existe mais o “mamá” entre eu e você.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sementes


Moramos numa casa muito especial. Todos perguntam como a encontramos: mentalizando. Sério, cansamos de visitar casas nas quais não nos víamos morando. Demos um tempo e passamos a mentalizar toda noite a casa que queríamos. Uma conhecida mandou um email sexta a noite sobre a casa. No domingo viemos visitar. Era a casa de um casal muito querido pela comunidade mas que estava de mudança pra Ilha Bela.

A casa é pequena, como eu queria, tem quintal e algo a mais: um salão amplo onde eram dadas aulas de yoga. O que que eu vou fazer com esse salão? Pensei muito nisso quando mudamos.

Na despedida que fizemos antes da mudança, uma amiga querida me contava que estava trabalhando e convivendo muito com o educador José Pacheco. Fiquei maravilhada. Conversamos muito sobre filhos, criação e educação e ela me disse: “organiza a comunidade que agente vai lá!” “Uia menina, você veio aqui pra me abrir uma porta, um caminho, veio a mando das forças do universo, foi não?”

Unindo meu interesse pela criação de filhos e um espaço fanstástico aguardando uma função, resolvi promover Encontros sobre Criação e Educação pra trazer gente bacana pra falar e trocar sobre o tema e pra conhecer a comunidade onde vim parar, reconhecer pares, criar novos laços.

Em 2013 fizemos quatro encontros dos quais gostei muito muito muito, principalmente pela generosidade dos convidados.

Em 2014 a agenda tá inspiradora!

Começamos em fevereiro com a Renata Meirelles, do Território do Brincar, que trouxe sua experiência de levar os filhos pequenos para uma viagem de dois anos pelo Brasil resgatando as brincadeiras infantis. Foi muito lindo. Algo que muito me marcou foi seu relato de como seu filho mais velho, Sebastião, era quem abria as portas para o universo infantil da comunidade. Que maravilhosa essa relação entre as crianças!

Vimos também alguns vídeos e entramos nesse universo do aprender fazendo, do aprender vivendo, de como as crianças estão atentas ao que lhes dá interesse e como não há preguiça mas muita força de vontade para criar seus brinquedos.

Em março exibimos o premiado documentário “Sementes do Nosso Quintal” sobre a Tearte, não-escola no Butantã, em Sampa, liderada pela Therezita. Em seguida tivemos um batepapo com a educadora Soraia Saura, amiga querida, companheira de maternagem, que estuda o brincar e tem um olhar doce e sábio sobre a maternidade e as relações daí advindas.

Foi a segunda vez que assisti ao filme e me emocionei muito mais. Tão delicado. Pra mim fala da relação com o outro. De cuidado. De enchergar o outro. De empatia. É a partir da perspectiva da criança que Therezita fala, age, transforma. Essa amoroza porém firme personagem lidera o filme e nos guia por esse universo mágico da casa da avó, cheia de sons, cores, cheiros, bichos, coisas pra brincar, buracos pra descobrir, amigos pra fazer, momentos pra solidão, festas pra compartilhar.

Fiquei especialmente tocada com uma passagem inicial em que ela se despede da turma dizendo que aprendeu muito com eles e que teve que “estudar bastante para poder me entender  e entender vocês”. É que pra mim a maternidade tem sido sinônimo de autoconhecimento. Não posso evitar olhar pra mim ao olhar meu filho. Todo o tempo aprendo sobre mim ao me relacionar com ele.

Uma amiga pergunta, na roda de conversa pós filme, o que mais poderia fazer pela educação de seus filhos de 7 e 9 anos. Contou o quanto reduziu sua jornada de trabalho pós maternidade para estar mais com eles, sua mudança de vida, o apoio que lhes dá diariamente e, no momento, a formação de um grupo, com uma amiga, para passar valores às crianças.

Pra mim, mais do que conteúdo, o que ela passa aos filhos é seu exemplo, o carinho com que se dedica a eles, a importância que eles têm na sua vida. É isso o que fica, é isso o que eles estão aprendendo, é esse o “mais” na educação que ela pode dar a eles.

Os próximos encontros sobre criação e educação são:
27/4/2014 com Elisa Manzano, da Escola Associativa Waldorf Veredas
18/5/2014 com André Gravatá, co-autor do livro “Volta ao mundo em 13 escolas”

15/6/2014 com José Pacheco, fundador da Escola da Ponte e do Projeto Âncora

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Do pedestal


Hoje compreendi um pouco as minhas vizinhas. E desci do pedestal.

São mulheres que trabalham dentro e fora de casa. Madrugam. Fazem o serviço de casa. Deixam os filhos com avós, na creche, na escola. Trabalham o dia todo. Voltam no fim do dia com os filhos só para continuar o serviço doméstico. E gritam. Gritam muito com os filhos. O tempo todo. Os menores choram. O tempo todo. Os maiores gritam. O tempo todo.

Eu, tendo ajuda três vezes por semana, cuidando só do filhote, nunca grito com ele, dificilmente me descabelo. Mantenho a postura e a doçura, mesmo quando são só disfarce. E critico as vizinhas.

Pois hoje minha ajuda faltou. Arrumei “malemá” a casa e comecei a fazer o almoço. Miguel requeria minha atenção todo o tempo. Perdi muito a paciência. Senti muita raiva. E muitas vezes não consegui disfarçar. Levantei a voz, me irritei, fiz gestos bruscos, lamentei em voz alta.

Aí compreendi o quanto de conexão e paz de espírito são necessárias quando o cuidado com o filho não é a única atividade e há outras prioridades a serem atendidas.

É claro que nada justifica a falta de respeito, agressividade e mesmo violência com os filhos, mas me leva a olhar mais fundo, respirar com mais calma, refletir com sinceridade e cuidar muito mais da relação.


Mesmo assim, hoje desci do pedestal. E vi as vizinhas com mais humildade e humanidade.

sábado, 5 de abril de 2014

Esperar, confiar


Quantas vezes por dia eu faço algo no lugar do meu filho. Não tenho paciência de esperá-lo cumprir a tarefa a que se propôs. Só depois percebo a minha antecipação.

Agora mesmo ele derrubou dois pedaços de abobrinha pra fora do prato. Na maior concentração, após algumas tentativas, consegue pegar o primeiro. Eu, mais que depressa, recolho o segundo.

Pressa. Pressa. Pressa. Pra ir aonde? Pra fazer o que?

Que bom esperá-lo terminar o que se propôs sem interferir, sem passar mensagens desestimulantes como: você é lento, você não consegue sozinho, você precisa de ajuda.

Nada disso é verdade. Ele vai no seu tempo, na sua habilidade, superando-se, conquistando confiança, ganhando autonomia.

Paciência Clarissa! aguarde o tempo que ele chega.


domingo, 30 de março de 2014

Nas quadras da Unicamp



Outro dia fomos às quadras da Faculdade de Educação Física da Unicamp, dica de uma nova e querida amiga. É gratuíto, há muitas quadras, são limpas e o mais legal, pra mim, é que os alunos estão lá jogando, usando os equipamentos. Temos companhia e podemos descobrir como se divertem com bolas e quadras!

O Miguel ama bola! E nós seguimos seus interesses.

Ao chegarmos, Miguel passou a explorar o território andando de um lado a outro do complexo de mais de 12 quadras e um campo de futebol. Eu o acompanhei sem dirigir ou propor nada e sem dizer muitas coisas, apenas respondia ao que ele me perguntava.

Nessas horas delícia de pura conexão com o filhote sempre penso em que mãe eu seria se não tivesse buscado as vivências, pessoas e informações que busquei a partir da gravidez. Imagino, nesse caso, que estaria dizendo: “olha a quadra tal”, “veja os meninos jogando”, “vamos jogar aqui”, “faz assim”. Fico aliviada e feliz por deixá-lo conduzir a atividade. É tão tão tão relaxante e gostoso!

O princípio é respeitar nosso filho em todos os momentos. Ouvi-lo. Atentar para o que lhe interessa. (Claro que somos normais e pisamos na bola, mas sempre vale o princípio!)

Não precisamos sugerir a ele que se interesse por isso ou aquilo. Não definimos o que deve receber sua atenção. Ao contrário. A criança está conectada consigo mesma, se descobrindo e a seus interesses. Se não atrapalharmos, se não impusermos os nossos, se não nos preocuparmos com a suposta falta de conhecimento ou interesse por algo que achamos importante, ela trará a tona o que lhe desperta curiosidade. E nada melhor do que um interesse genuíno para se desejar explorar, aprender e descobrir cada vez mais.

As crianças devem estar livres para definir o que querem fazer.

De nós elas esperam conexão, presença, que estejamos lá com e para elas.

Mas não precisamos dirigir a atividade, propor o que fazer, trazer estímulos de fora. Tá tudo nelas. Elas farão o que lhes der curiosidade e isso já é um mundo! E vão explorar as coisas no seu tempo. Não há pressa. Elas aprenderão se houver interesse. E se ninguém atrapalhar tratando seu aprendizado como obrigação ou como algo que mereça recompensa.

Recompensar comportamentos ou atitudes que nós adultos apreciamos é não só desnecessário mas mesmo prejudicial. A criança fará suas descobertas a partir de um impulso interno, de uma vontade própria, e não por que tem expectativa de receber algo em troca de seu êxitos. Não é salutar que ela aja para receber um presente, um beijo ou mesmo “parabéns”. Seus atos devem se originar de um interesse genuíno e interno que a motiva a agir dessa ou daquela maneira.

Acreditar na criança, pra mim, é a grande sacada dessa linha de pensamento que encontrei em vivências e autores[1].

Não significa que não possamos comemorar algo incrível que nos encha de orgulho, mas não precisamos a cada gol ou a cada acerto na contagem dos números fazer uma festa. Não é isso que a criança espera de nós. Como disse, ela quer conexão e presença.

Depois da andança pelo espaço Miguel se decidiu por uma das quadras de futebol. Para minha sorte ficamos no gol servido pela única sombra sobre as quadras, vinda de um imenso flamboyan! Agradecida!

Foram muitos chutes a gol. Mamãe na função de buscar a bola quando ia pra longe. De uma hora pra outra Miguel, de 2 anos e meio, começou a jogar a bola pra cima e, quando caia, chutava pro gol. A bola batia alto na rede. Que incrível assistir a essa sua descoberta!

Passamos pras quadras de basquete e ficamos observando os alunos jogando e fazendo cestas. “CESTA!” gritávamos!

Havia um bebedouro ali e Miguel pediu água. Na hora lembrei-me da Fátima que trabalhou mais de 30 anos na casa da minha mãe e praticamente nos criou. Lembrei-me dela dando-me água num bebedouro, fazendo uma concha com a mão. Da maciez e firmeza da base da sua mão de onde eu sorvia a água. Foi assim que a ofereci pro Miguel.

Enquanto estava ali naquela sombrinha abençoada vendo meu filhote chutar a bola feliz da vida fiquei muito grata por ter feito escolhas que me permitem viver sua infância e aprender tanto sobre mim, sobre ele, sobre nós.




[1] A primeira vez que ouvi sobre isso foi numa vivência de educação ativa com Margarita Valência, educadora equatoriana que tem promovido encontros no Brasil com o grupo Orion Educativo. Dois autores que me ocorrem agora são John Holt, Aprendendo o tempo todo, e Alfie Kohn, Unconditional Parenting. O Marcelo Michelson, no excelente blog Conexão pais e filhos, também escreve sobre isso.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Miguel e a bola








Amiga querida me pede pra relatar a paixão do Miguel pela bola. Estava escrevendo um artigo que fala da relação das crianças com o Boi e com a Bola. Que honra! Aí vai:



Não me lembro quando a forma redonda, circular, entrou na vida do Miguel. Foi muito cedo, e veio pra ficar. Desde muito pequeno ele se interessa por círculos. A lua foi uma paixão natural; a bola, amor à primeira vista.
 Tudo é bola. Em tudo ele a vê. Bola de futebol, de basquete, de tênis, de pebolim, de sinuca. Uva, laranja, limão, mexerica. Cebola, semente, ralo, prato, maçaneta. Óculos, janela, banco, pão de queijo. O zero, a letra O, o planeta terra. O gosto pelo pepino cortado em círculos. Formas arredondadas compõem quadros, livros, móveis, roupas, carros, embalagens.
 Tudo é visto a partir dela: “olha a bola”. “Papai, desenha a bola”, muitas vezes por dia. “Onde tá minha bola?”, primeira frase matinal. É o brinquedo favorido carregado a tiracolo por onde anda. “To dando mamá pra bola” me diz quando a segura junto ao peito.
 Já se apaixonou por uma pequena bola azul de futebol: “bola, você é muito linda, você é azul, você é prática, eu te joguei lá embaixo...”, por outra amarela, pela bola murcha, por uma laranja, pela branca e preta de futebol, atual companheira inseparável. “Mamãe, canta a música Oi Oi Oi, Olha aquela bola”.
 Santas bolinhas antroposóficas e homeopáticas.
 Em casa as bolas são de todos os tipos e tamanhos, de bola de sabão a “bolinha de gudinha”. “Eu chutei a bola e marquei um gol” ele conta quando alguém o chama ao telefone. Fotos, sempre com a bola, parâmetro e lente a partir da qual descobre o mundo... redondo.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Depois que virei mãe


Como tem coisa pra se aprender na maternagem! É um universo! Autoconhecimento e conexão são as palavras de ordem pra mim.

Eu queria muito compartilhar minhas experiências e reflexões, mas tem tanto blog bacana de cada mãe sabida. E que escrevem lindamente, muito melhor que eu! E os pais, cada vez mais presentes na blogsfera da materno-paternagem!

Comecei a questionar se eu tinha mesmo algo a acrescentar. Mas o fato é que a reflexões vinham surgindo diariamente e fui sentido a necessidade de escrevê-las. Daí a compartilhá-las foi um clique (mentira, vários e com ajuda do marido!).


Enfim, sou aqui mais uma mãe encantada com a maternidade e feliz de expressá-lo por esse meio. Bem vind@s!

De como cheguei aqui e agora


Foi um longo caminho até o encontro com meu companheiro e a decisão de termos um filho. Sempre tive dúvidas sobre tudo e mesmo depois de grávida eu ainda não estava, digamos, 100% segura do que eu havia escolhido.

Após o nascimento do Miguel, porém, não me lembro mais de ter tido as dúvidas que me assombravam anteriormente. As coisas mudaram. E não é que foi de repente. Foi como se sempre tivesse sido assim.

A maternidade foi pra mim uma grande transformação mas, olhando agora, é como se tudo estivesse sempre ali. Na verdade estava sim, tudo estava em mim.

As dificuldades dos primeiros meses estão encobertas na minha memória pois logo que o Miguel nasceu meu marido descobriu um tumor no cérebro removido por cirurgia. O ano seguinte inteiro foi de rádio e quimioterapia, muitas outras terapias, muitas mudanças na alimentação, nas nossas relações, no nosso estilo de vida.

Mas foi um ano voltado para esse tema: o tratamento da temida doença e, passado esse ano, voltei-me um pouco para minhas questões. Nesse ano também voltei a trabalhar em um lugar que adoro, com pessoas que amo, fazendo coisas de que gosto, com um horário pra lá de flexível, trabalhando dois dias por semana em casa e com muita compreensão das “chefes”. Aliado a isso tive a sorte de contratar uma babá cujo amor pelo Miguel é tão grande quanto o dele por ela, além de ter o auxílio de uma funcionária perfeita que cuidava da casa.

Mas nada disso me tirava o sentimento de que havia algo errado. De que meu lugar não era trabalhando fora, por mais nobre que fosse meu ofício. Que não fazia sentido tentar mudar o mundo através de políticas públicas, brigar com grandes corporações, judiciário, executivo e legislativo. Que a grande revolução, a verdadeira transformação estava na relação mãe e filho. Era essa relação na qual eu queria investir. Era essa relação que eu queria viver plenamente.

Muitas leituras me acompanharam nesse período e os livros da Laura Gutman foram fundamentais a ponto de me interessar por experimentar seu método terapêutico, a biografia humana. E foi assim que comecei um total de 10 sessões por skype em um portuñol duvidoso mas com muita ânsia de me aprofundar em mim mesma. Entendi meu papel no cenário familiar, me perdoei, compreendi as ações e reações de familiares bem como algumas das situações ocorridas logo após o nascimento do Miguel. Vale dizer que mais de 10 anos de análise devem ter contribuído um tanto para esse resultado.

Ao lado disso, cada vez mais o tema da criação dos filhos me movia. Li Carlos Gonzales e Jean Liedloff além de outros autores que tratam da criação com apego, compartilhei com mães em grupos presenciais e virtuais, acessei blogs, participei de vivências de educação ativa e vi uma entrevista reveladora com Ana Thomaz que me arrebatou! Após vários contatos e encontros finalmente comecei a fazer aulas semanais de técnica Alexander em sua casa que, pra mim, mais que tudo, foram terapêuticas para o corpo e a alma.

Foi um período muito fértil, de muita conexão e autoconhecimento. Em dois ou três meses pedi demissão do meu trabalho e em cinco mudamos de São Paulo para um pequena chácara em Barão Geraldo, distrito de Campinas.

Tudo se encaixou, a mudança gritava no meu corpo, eu precisava agir. Já. No início não sabia bem pra onde. Claro que pedir demissão sendo a maior renda familiar não é uma decisão a princípio fácil. Mas confesso que não foi difícil porque era tão óbvia!

Na verdade o que houve foi uma mudança de paradigma e uma compreensão do sentido da vida, de porque estamos aqui, do que é realmente importante. Claro que tudo isso pode ser um chavão se só ficar nas palavras e intensões. Mas essa mudança de valores atingiu meu âmago, ou brotou dele, tanto faz. Eu incorporei esses sentimentos, essa forma de pensar e sentir.

Eu queria estar com meu filho! Por mais que a babá fosse incrível, amorosa e amada por ele, quem eu queria que estivesse nos momentos preciosos do seu dia era eu. Eu queria assisti-lo na descoberta do mundo, vê-lo se desenvolver, compartilhar com ele meus valores, minhas ideias, meus sentimentos.

A princípio pedi demissão com a firme ideia de continuar em Sampa, mudar para uma casa. Quão egoísta eu estava sendo. Meu marido, após mais de um ano de tratamento barra pesada voltou a trabalhar na Unicamp e três vezes por semana viajava de fretado sacrificando de doze a quinze horas semanais só no trajeto. Já na gravidez ele suavemente me havia proposto a mudança pra Campinas mas havia uma grande resistência de voltar para o interior, para uma vida interiorana parecida, na minha cabeça, com a da minha infância/adolescência que não foi das mais felizes e da qual fugi na primeira oportunidade que pude, mais de 20 anos atrás.

De novo agora ele timidamente me propunha a mudança e eu não conseguia enxergá-la, até que uma amiga me perguntou: mas por que vocês não mudam pra Barão Geraldo? Essa frase ressoou não só na minha cabeça, mas em todo o meu corpo. Eu não conseguia parar de pensar nisso. Fazia todo sentido. Barão Geraldo. Era um chamado, o mesmo chamado que eu ouvia para me dedicar integralmente à maternidade.

As pessoas hoje, quando chegam na minha casa, se surpreendem com a mudança. Eu as compreendo mas não vejo assim, porque já havia mudado a casa interna muito antes, a mudança externa foi consequência lógica e natural dos passos anteriores.

Não foi fácil, mas também não foi nada difícil porque tudo fazia sentido, tudo vinha de dentro, tudo era natural.

E foi assim que chegamos aqui e agora.