sábado, 6 de fevereiro de 2016

Sobre piolhos e aprendizados


Estamos saindo de um ataque de piolhos. Começou com os meninos do condomínio que vão à escola. Eu soube por cima, não me envolvi, mas minha cabeça começou a coçar.

Marido não viu nada e eu fui levando. Dez dias depois, tirei um piolho criado da cabeça enquanto penteava os cabelos no banho. Desespero.

Vinagre, pente fino, shampoo contra piolhos por 4 dias. Mas a coisa não diminua. Estávamos fora de casa, viajando. Ao voltar soube que uma das famílias havia comprado um shampoo americano tipo serial killer de piolhos. E que era prudente ferver roupas de cama e toalhas.

Isso mexeu com meu comodismo nato e quis acreditar que comigo não seria necessário. Na mesma noite acordei me coçando. Passei vinagre e fui ferver elásticos de cabelo: muitas lendeas se soltaram de lá!

A sorte, pensei, é que ninguém mais pegou. Dois dias depois e ambos filhotes coçando a cabeça. Desespero dobrado.

Fui atrás do shampoo serial killer e passei no mais velho. Pente fino lotado de piolhos e lendeas. Meu único pensamento era como me livrar o mais rápido possível dessa praga. Como amamento, não usei o tal shampoo, nem a bebeia.

Eu já estava fervendo roupas de cama e toalhas e, pro meu horror, encontrando lendeas e piolhos mortos na água. Passava o dia a vinagre ou óleo de côco e pente fino. E agora precisava cuidar também da duplinha.

Conversando com outra vizinha fui compreendendo a naturalidade de se ter piolhos (eu tive na infância e até uma vez na adolescência). Podia usar o método hard core serial killer ou ir lidando com as lendeas e os piolhos de forma natural, usando pente fino, secador de cabelo, vinagre, óleo de côco.

Também fui aprendendo a reconhecê-los já que passei a ferver os pentes finos. Fui notando os tamanhos e as quantidades. Apesar do serial killer, dois dias depois Miguel voltou a se coçar. E dá-lhe óleo de côco e pente fino.

Outra vizinha me falou dos piolhos no seu bebe. De como é fácil tirá-los daqueles poucos fios. E assim me vi, em plena praça do côco, catando piolho da pequena enquanto a amamentava.

Fui, aos poucos, dominando a situação. Não havia uma solução única e rápida: um tiro só. Mas muitas técnicas e dicas, dedicação e esforço e auto aprendizado pra lidar com a situação.


Passei também a ver os piolhos não mais como inimigos mortais a serem exterminados, mas como outros seres vivos em seu ciclo de vida, alimentando-se, reproduzindo-se. Assim como as aranhas que habitam a parte externa de casa com suas imensas teias. Assim também os gambás que já moraram no telhado, os pássaros que fazem ninho entre as telhas, os grilos que invadem a casa no verão. Todos parte da natureza, desse mundo, desse planeta, vivendo, como nós.

Tem sido tão potente essa experiência que chego a agradecer o surto. Me lembrei do título de um livro que ainda não li, de Daniel Munduruku: “Catando piolhos, contando histórias”. Os indígenas catam piolhos uns dos outros, de suas crianças, e assim vão se cuidando, se relacionando, vivendo, aprendendo, contanto histórias.


Os piolhos são parte da vida, e aqui, apesar de não serem bem vindos, não são mais um bicho de sete cabeças.