Ontem fomos a uma
praça que nunca tínhamos ido. Tínhamos amigos reunidos em um piquenique. Algumas
crianças passaram a andar se equilibrando sobre um meio fio que cercava o
tanque de areia e os brinquedos.
Lolo, 1 ano e
meio, quis andar também e me chamou para auxiliá-la. Caiu várias vezes. Ralou o
joelho e chorou. Continuou. A cada vez que se desequilibrava ou caia, ralava os
pezinhos, reclamava um pouco e seguia.
Demos umas três
voltas, eu oferecendo uma das mãos para apoiá-la. Ela, caindo, levantando e
seguindo. Paramos um pouco pra ela ver o irmão jogando bola. Logo retornamos ao
meio fio.
Quanto pulsar
vital nessa criança (e em todas). Não importa o machucado, a dor, o cair.
Importa seguir, continuar, superar-se, conseguir.
Sei que poderia
tentar poupá-la para que não se ferisse, interferindo para que parasse seu
desafio auto imposto. Quanta frustração eu causaria. Deixei para ela essa
decisão. Eram nela que doíam (ou não) os pequenos machucados.
Nada de muito
grave poderia lhe acontecer pois a brincadeira era segura e eu estava ao seu lado,
de mãos dadas.
Ela, do alto de
seus 18 meses, pode decidir se quer ou não continuar com algo que, de alguma
forma, está a lhe causar algum incômodo.
Fiel ao seu desejo
de superar-se, Lolo ergueu-se todas as vezes e seguiu, só parando quando já não
lhe interessava o brinquedo.
Há decisões que as
crianças podem, e devem, tomar. Miguel nunca gostou de roupas de frio e num
inverno intenso estava lá, de shorts e camiseta, extraindo comentários de
espanto. Nunca se resfriou por conta disso. Aliás, crianças de outras partes do
mundo estariam usando os mesmos trajes que ele no nosso inverno tropical.
Lolo não nega o
sangue quente e no frio inverno de 2016 passou muitos dias literalmente pelada.
Até a fralda se recusa a usar ultimamente, fazendo um xixizinho aqui, um
cocozinho acolá, que vamos limpando enquanto ela ainda não quer sentar, pelo
menos por muito tempo, no pinico\privadinha.
E por que não deixá-la
decidir? É ela quem sabe da sua temperatura, quem está aprendendo o que é
sentir frio.
Sempre digo ao
Miguel que há muitas coisas que ele sabe mais do que eu. São coisas sobre ele.
É
essa confiança que os faz seguir firmes seu coração e aprender sobre si mesmos.