segunda-feira, 20 de maio de 2019

Casas



Quando olho pra trás, pro vivido até aqui, percebo que as mudanças foram muitas.


Tantas.


Abri um espaço em mim. Um espaço de estar comigo.


Um espaço interno. Um lugar, um aconchego.


Demorei muito pra abri-lo, pra entender que era esse o movimento que eu fazia.


Porque a cidade, a vida urbana, a vida que até então eu tinha vivido era uma vida de distrações. Não havia lugar pro tédio. Só havia medo da solidão.


E esse medo era evitado com um milhão de distrações. Com muitos foras.


Tudo era fora. Eu era fora.


Corria pra fora por puro medo do dentro, do tédio, de mim. Desse encontro comigo.


E quando entrei nesse portal da maternidade, o caminho pra dentro foi inevitável.


Mas eu não sabia.


Sabia do incômodo, de que eu mesma não mais cabia.
Não cabia no fora, não cabia na vida até então vivida, não cabia naquelas escolhas antigas.


Mas não sabia o que viria, pra onde eu estava indo.


E ainda com meu primeiro filho, o hábito de buscar tudo fora se fez sentir por muito tempo. E isso ele mesmo me mostrava.


A minha ansiedade o contaminou e ele pedia programas, pedia pessoas, pedida distrações, pedia o fora.


E abrir esse espaço dentro foi criar uma casa. Criar uma casa interna, mas também outra externa.

Ter uma casa. Me sentir capaz de tê-la e cuidar dela.


E mais: ficar, permanecer nela.


Estar nessa casa sem distrações, no silêncio, comigo mesma.


E como tem sido bom.

Como é bom abrir esse espaço interno e me sentir capaz de cuidar dele. De cuidar dessas casas, de me responsabilizar por mim mesma, de ser minha companhia.


E hoje o processo é, de fato, de construir uma casa. Sim, estamos construindo nossa própria casa no mato. E construir uma casa é tão novo pra mim. Algo que nunca imaginei que seria capaz.


Mas que está acontecendo. E só foi possível porque tive ocasião de abrir esse espaço interno, de construir minha casa interior.