Quando Miguel fez 2
anos, compramos um triciclo que vira biciclo quando a criança
adquire as habilidades necessárias.
É um brinquedo
lindo e genial, pois permite à criança aprender a andar de
bicicleta através de seu próprio equilíbrio, tentativa e erro,
evitando a fase das rodinhas.
Só que o Miguel
nunca deu a menor bolo pra esse brinquedo. Sequer tentou montá-lo
quando ganhou. As crianças que vêm em casa adoram, querem testar,
mas pro Miguel não fazia a menor diferença.
Pois não é que
perto dos 3 anos ganhou um capacete do pai, que também usa e vai pro
trampo de bici, e aí deu pra querer andar de triciclo, dizendo, com
o capacete na cabeça: “vou trabalhar”.
Tudo a seu tempo.
Nós é que criamos a expectativa, e somos tão imediatistas que
esperamos que os filhos ultrapassem fases, e interesses, como se
estivessem numa prova de obstáculos.
Há tanto a
aprender! Com a comida tive, e ainda tenho, um grande aprendizado.
Miguel só começou a comer com um ano e meio e havia coisas que não
comia e pronto!
A espera que vivi
até que ele começasse a comer me obrigou a reduzir a zero as
expectativas e aceitar que ele fosse como é. Um livro que me ajudou
muito foi “Mi niño no me come”, do pediatra espanhol Carlos
Gonzales, que recomendo com veemência tamanho o respeito pelo outro
que nos mostra.
Essa leveza no
comer, em não obrigar, pedir nem esperar que ele coma resultou em um
menino apreciador de tapioca, pepino, beterraba, aceto balsâmico,
tahine com mel, yogurt, vagem, couve, omelete, peixe cru e muitas
outras coisas que em nem poderia sonhar! Ha outras que não come, não
quer provar, e pronto. Uma delas era banana.
Pois não é que há
mais ou menos dois meses uma amiga com as filhas gêmeas estava em
casa e entre os conflitos surgidos com o tema da posse dos
brinquedos, cuja maioria era do Miguel, ela ofereceu banana às
meninas e, como forma de aproximação, ele pediu banana, comeu
várias e desde então faz parte do seu cardápio.
Assim também com
livros, discos, brinquedos para os quais ele não ligava, não queria
ouvir, ver, brincar. Com o tempo interessou-se e passou a apreciar.
A expectativa é
minha. Acreditar no meu filho e no seu crescimento e amadurecimento é
um desafio diário, mas cheio de recompensas.