De Terra Una, em Liberdade, Sul de
Minas, seguimos rumo a Aimorés, na Bacia do Rio Doce, na divisa de Minas com o
Espírito Santo.
Desde o começo do ano, quando soubemos
do projeto de reflorestamento da Fazenda Bulcão, herdada pelo fotógrafo
Sebastião Salgado, queríamos conhecer o Instituto Terra, organização criada por
ele e por sua companheira para levar a cabo o projeto.
Demoramos três dias para chegar,
com pernoites em Juiz de Fora e Manhuaçu. É um grande desafio para as crianças,
e pra nós, tantas horas e dias na estrada. Tentamos viajar em horários em que
sabemos que vão dormir pelo menos por algum período. E sempre de dia, pois não
conhecemos as estradas e não queremos correr o risco de que algo aconteça
durante a noite.
Lemos, comemos, cantamos. Mas
muitas vezes nada disso adianta e temos que parar por algum tempo. Ou eu acabo
pegando Lolo no colo para que ela consinta em seguir mais um pouco até nosso
destino daquele dia.
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Lolo apreciando a paisagem |
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Próximo a Aimorés. Parada estratégica na estrada de terra |
Chegamos no Instituto Terra na hora
do almoço e fomos surpreendidos por um lindo jardim florido e construções em
madeira e alvenaria amplas e de bom gosto. Parte das construções foi feita
sobre o antigo curral, aproveitando as cercas originais.
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Construção sobre antigo curral |
Ficamos em uma casa com seis
suítes, sala, ampla varanda que dava para um lago. Tudo cercado pelo incrível
jardim. Já de início vimos um quati andando pelo quintal dos fundos.
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Fundos da casa que nos abrigou |
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No jardim ao redor do nosso alojamento |
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Brincando perto do lago |
Fomos acolhidos por pessoas
simpáticas e atenciosas. O Instituto Terra tem cerca de 72 funcionários entre
administrativo, pesquisa, projetos e pessoal de campo. São 709 hectares, sendo
609 reservados à Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) e 100 à sua
sede.
Em pouco mais de 15 anos já foram
plantadas mais de 4 milhões de mudas na área da RPPN. O que antes era pasto, agora é mata. Ainda há partes a serem
reflorestadas.
Com o reflorestamento muitas espécies animais voltaram à região.
A começar pelos quatis. Mas também cobras, aranhas, escorpiões. Vimos diversos
pássaros de diferentes cores e cantos. E borboletas. E jabotis. Até um
tamanduá de colete já foi visto por lá.
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Encontramos jabotis no último dia |
Há um viveiro com capacidade para
700 mil mudas e planos de ampliação para 5 milhões no futuro.
Ali está o único cine teatro de
Aimorés. Aliás, a fazenda é colada à cidade e recebe visitantes que passeiam em
seus jardins diariamente.
Há pelo menos outros dois prédios
de alojamentos coletivos e um refeitório com cozinha em que fizemos a maioria
das refeições durante nossa estadia.
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Aguardando o refeitório abrir as portas |
Há ainda o NERE – Núcleo de Estudos
em Recuperação Ecossistêmica, que abriga também entre 20 e 30 estudantes bolsistas
que residem por lá durante um ano. Seu curso é 80% prático e 20% teórico. São
alunos do ensino técnico, em geral vindos de Minas, Rio e Espirito Santo. Dois
deles nos acompanharam na trilha institucional e depois na trilha dos quatis
que fizemos com as crianças.
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Trilha institucional |
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Trilha dos quatis |
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Observando uma voçoraca feita pelas águas da chuva |
O Instituto Terra já recuperou mais
de 1000 nascentes na região, e todas as nove nascentes de sua sede. Com o
projeto Olhos D’água, têm ajudado produtores rurais a reflorestar e recuperar
suas nascentes.
É tão sério o que acontece no
Brasil com a água. Um país que tem cerca de 13% da água doce do planeta, mas
que mata seus rios poluindo-os, retificando-os nas áreas urbanas, desmatando as
matas e florestas que os mantém vivos e às suas nascentes. As chuvas e a água
vêm acabando. Já sentimos isso na pele, e o crescente mercado de água
engarrafada é apenas mais um sintoma.
O próprio Rio Doce, cuja orla podia
ser vista da cidade de Aimorés, já não passa mais por lá. Suas antigas margens
estão secas em razão de desvio e represamento. Sem falar dos efeitos do
chocante acidente de Mariana sobre sua bacia.
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"Orla" do Rio Doce em Aimorés |
Os rios são nossa esperança de
sobrevivência nesse planeta, e não há rios sem matas e florestas. Daí a
importância de um projeto como esse e de que outras iniciativas nele se
inspirem.
Passeamos um pouco pela cidade de
Aimorés, cortada pela linha de trem. Sobre a linha, em determinado ponto, foi
construída uma passarela que imediatamente atiçou a curiosidade de Miguel. Sem
muita animação concordei em acompanhá-lo na travessia sobre a ferrovia e qual
não foi minha surpresa ao vivenciar tamanha diversão! As crianças sabem mesmo
das coisas!
Numa pequena praça, em frente à
estação de trem, brincamos mais um pouco antes de ir à feira semanal da cidade
que acontece às 6as feiras à tarde e segue noite a dentro. Tudo sob um calor de
35 graus à sombra.
A temperatura na Fazenda Bulcão é
pelo menos 2 graus mais baixa que a da cidade de Aimorés. Que se plantem muito
mais árvores!