quarta-feira, 5 de maio de 2021

Tédio e Diversão Criativa

Não há sofrimento no tédio. Por que eu acho que há sofrimento no tédio? Quando vejo minha filha deitada no sofá me vêm vários sentimentos: culpa, ansiedade, angústia. 


Sinto necessidade de atendê-la, de tirá-la desse estado. Muitas vezes a motivação vem dela própria, de suas reclamações e insistência para a distração fácil. 


O desafio é aguardar. Seguir presente, mas aguardar, inibir o impulso de resolver, de tirá-la dessa insatisfação, desse “sofrimento”. Manter-se conectada. 


Se se consegue ultrapassar essa fase, inibindo a ação, a mágica acontece. Algo se passa e ela irá para a criação. Encontrará algo que a move, que a faz querer agir, entrar em movimento: brincar, criar, pintar, inventar coisas que impulsionam sua capacidade criativa e sua vontade. 


A diversão acontece, mas não como distração, como pura criação. 


Da mesma forma os momentos de conflito entre irmãos, que nada mais são, muitas vezes, do que tédio coletivo. Para mim é sempre desafiador. Me mobiliza. Minha reação é atuar, impedir, acabar com o conflito. 


Porém, se posso estar presente e sustentar esse tédio - o que é muito mais árduo quando vira briga entre as crianças - se sigo presente, apenas evitando as agressões, logo aquela relação se transforma. 


Novamente, como num passe de mágica, as crianças mudam de energia, entram num fluxo e criam algo juntas, passam à brincadeira, à criação, à diversão criativa. 


Que alegria acessar a mágica desse funcionamento, do funcionamento humano. Saber que a presença e a sustentação bastam. Não que seja fácil manter-se presente e sustentar o tédio, individual ou coletivo.Vê-lo sendo superado, porém, é puro deleite.