Moramos numa casa muito especial. Todos perguntam como a
encontramos: mentalizando. Sério, cansamos de visitar casas nas quais não nos
víamos morando. Demos um tempo e passamos a mentalizar toda noite a casa que
queríamos. Uma conhecida mandou um email sexta a noite sobre a casa. No domingo
viemos visitar. Era a casa de um casal muito querido pela comunidade mas que
estava de mudança pra Ilha Bela.
A casa é pequena, como eu queria, tem quintal e algo a mais:
um salão amplo onde eram dadas aulas de yoga. O que que eu vou fazer com esse salão? Pensei muito nisso quando
mudamos.
Na despedida que fizemos antes da mudança, uma amiga querida
me contava que estava trabalhando e convivendo muito com o educador José
Pacheco. Fiquei maravilhada. Conversamos muito sobre filhos, criação e educação
e ela me disse: “organiza a comunidade que agente vai lá!” “Uia menina, você
veio aqui pra me abrir uma porta, um caminho, veio a mando das forças do
universo, foi não?”
Unindo meu interesse pela criação de filhos e um espaço
fanstástico aguardando uma função, resolvi promover Encontros sobre Criação e
Educação pra trazer gente bacana pra falar e trocar sobre o tema e pra conhecer
a comunidade onde vim parar, reconhecer pares, criar novos laços.
Em 2013 fizemos quatro encontros dos quais gostei muito
muito muito, principalmente pela generosidade dos convidados.
Em 2014 a agenda tá inspiradora!
Começamos em fevereiro com a Renata Meirelles, do Território
do Brincar, que trouxe sua experiência de levar os filhos pequenos para uma
viagem de dois anos pelo Brasil resgatando as brincadeiras infantis. Foi muito
lindo. Algo que muito me marcou foi seu relato de como seu filho mais velho,
Sebastião, era quem abria as portas para o universo infantil da comunidade. Que
maravilhosa essa relação entre as crianças!
Vimos também alguns vídeos e entramos nesse universo do
aprender fazendo, do aprender vivendo, de como as crianças estão atentas ao que
lhes dá interesse e como não há preguiça mas muita força de vontade para criar
seus brinquedos.
Em março exibimos o premiado documentário “Sementes do Nosso
Quintal” sobre a Tearte, não-escola no Butantã, em Sampa, liderada pela
Therezita. Em seguida tivemos um batepapo com a educadora Soraia Saura, amiga
querida, companheira de maternagem, que estuda o brincar e tem um olhar doce e
sábio sobre a maternidade e as relações daí advindas.
Foi a segunda vez que assisti ao filme e me emocionei muito
mais. Tão delicado. Pra mim fala da relação com o outro. De cuidado. De
enchergar o outro. De empatia. É a partir da perspectiva da criança que
Therezita fala, age, transforma. Essa amoroza porém firme personagem lidera o
filme e nos guia por esse universo mágico da casa da avó, cheia de sons, cores,
cheiros, bichos, coisas pra brincar, buracos pra descobrir, amigos pra fazer,
momentos pra solidão, festas pra compartilhar.
Fiquei especialmente tocada com uma passagem inicial em que
ela se despede da turma dizendo que aprendeu muito com eles e que teve que “estudar bastante para poder me entender e entender vocês”. É que pra mim a
maternidade tem sido sinônimo de autoconhecimento. Não posso evitar olhar pra
mim ao olhar meu filho. Todo o tempo aprendo sobre mim ao me relacionar com
ele.
Uma amiga pergunta, na roda de conversa pós filme, o que
mais poderia fazer pela educação de seus filhos de 7 e 9 anos. Contou o quanto
reduziu sua jornada de trabalho pós maternidade para estar mais com eles, sua
mudança de vida, o apoio que lhes dá diariamente e, no momento, a formação de
um grupo, com uma amiga, para passar valores às crianças.
Pra mim, mais do que conteúdo, o que ela passa aos filhos é seu
exemplo, o carinho com que se dedica a eles, a importância que eles têm na sua
vida. É isso o que fica, é isso o que eles estão aprendendo, é esse o “mais” na
educação que ela pode dar a eles.
Os próximos encontros sobre criação e educação são:
27/4/2014 com Elisa Manzano, da Escola Associativa Waldorf
Veredas
18/5/2014 com André Gravatá, co-autor do livro “Volta ao
mundo em 13 escolas”
15/6/2014 com José Pacheco, fundador da Escola da Ponte e do
Projeto Âncora