Os lugares que escolhemos para
visitar, nessas duas longas viagens que fizemos, são em geral lugarejos,
comunidades, pequenas vilas.
Espaços onde ser humano e natureza estão
integrados, ou mais integrados que nos centros urbanos. Onde nos conectamos com
os ciclos da lua, convivemos bem de perto com muitos tipos de insetos, pisamos
na terra, reformulamos nossos critérios de conforto, flexibilizamos nossas exigências
de limpeza.
Nesses lugares as crianças brincam
soltas, estão livres para se arriscar, para gastar toda sua energia, para
desafiarem seus próprios limites, explorarem sua curiosidade. Elas estão também
em ambientes mais harmônicos para os sentidos porque a natureza traz essa
harmonia. Ouvir, ver, cheirar, degustar, tocar. Tudo é mais agradável, menos
brusco ou invasivo, mais leve e agradável.
Mas durante nossa viagem muitas
vezes pernoitamos em cidades ou paramos por alguns dias para visitar amigos ou
parentes em centros urbanos. Ali os ruídos são intensos e intermitentes, a
noite é clara, não escurece de verdade, os odores nem sempre são agradáveis, no
mais das vezes há poluição visual, sonora e do ar.
É notável a diferença no humor das
crianças e na intensidade e quantidade de conflitos entre nós e elas.
Passamos cinco dias na casa de uma
amiga muito querida em Diamantina, entre nossa estada em Araçuaí e Lapinha da Serra. Seu marido estava fora mas contamos com a
companhia de sua adorável filhota de quatro anos.
Estávamos exaustos depois de quase
um mês na estrada e precisávamos de um tempo em casa. Essa família mora em uma
casa com quintal, mas também com televisão e as crias acabaram ficando bastante
tempo na frente da tela.
E quando iam brincar, hora ou outra
os conflitos se tornavam insuportáveis para nós que estávamos justamente
precisando de descanso e fugindo da intensa conexão que vivemos com elas nos
dias anteriores.
Então, depois de dois dias
enfurnados em casa, fomos para Curralinho, uma pequena vila perto de
Diamantina, fofa que só, com uma represa linda! Foi um bálsamo! As crianças
voltaram a brincar livres.
Paradoxalmente, aquele baita espaço ao ar livre é
ultra acolhedor. Elas ficam tranquilas, os conflitos se reduzem, as opções são
infinitas.
Brincando na Represa de Curralinho |
Miguel e Valentina explorando as pedras e desafios naturais |
Ales e Valen indicando o caminho |
Passeando por Curralinho |
Com a igrejinha ao fundo |
Em outro dia fomos para a vila do
parque estadual de Biribiri e mais relaxamento, risadas, conexão, alegria,
prazer em estar junto.
Vila do Biribiri: almoço delícia sob as árvores |
Criançada solta |
Relaxados |
A natureza também tem efeitos sobre
nós, claro, e podemos estar mais serenos pra estar com as crianças e lidar com
nossos conflitos internos e externos.
Escrevo do Rio de Janeiro[1],
grande centro urbano onde mora a querida irmã do Tiago. Estamos super bem acomodados
em seu apartamento, numa charmosa rua de Laranjeiras e com uma praça bem em
frente ao prédio, frequentada por crianças de manhã e no fim da tarde.
Mas nossos filhotes estão muito
mais irritados. Os conflitos são constantes e intensos, entre eles e conosco. E
todo o tempo pedem por filminhos ou pelo celular, e mais conflitos pra negar.
Nós também estamos mais cansados, menos flexíveis, com menos paciência.
Mesmo quando saímos às ruas, os
ânimos não se arrefecem. É tanto estímulo para o consumo supérfluo e para
coisas que fazem mal à saúde. É tanto “não” e “não pode”. É tanta negociação,
que fica tudo pesado e cansativo.
No fim do dia estamos todos
exaustos, crianças e adultos, muito menos disponíveis para a empatia e o cuidado.
Nos desrespeitamos mais, erramos mais, sentimos mais culpa.
Observar essa dinâmica e fazer a
relação com a proximidade da cidade e a distância da natureza tem sido uma
grande chave pra mim e pras buscas que temos empreendido, confirmando nossas escolhas.