domingo, 4 de janeiro de 2015

Pulão do amigo vale mais que muitas aulas de natação


Há alguns meses percebemos que Miguel não se interessava mais pela piscina. Diferente de antes, mesmo em momentos de calor, com adultos e crianças na piscina, ele não tinha o menor interesse em entrar.

Conversando com amigos desconfiamos de que a causa seria um caldo que ele tomou há tempos, então o colocamos na natação. No primeiro dia ele não quis entrar na piscina de jeito nenhum e só no fim da aula acabou entrando, de roupa mesmo. Com o tempo, contudo, foi relaxando e perdendo o medo inicial, mas longe de ser desprendido como as outras crianças.

Apesar de não ser uma escola de natação como outras que já vi, com metas (!) para crianças aos 6, 12, 18, 24 meses, vejo que as estratégias para a criança avançar não são muito diferentes, ou seja, o professor muitas vezes engana o Miguel e o força a fazer coisas que ele inicialmente não queria. E faz comparações com outras crianças para convencê-lo.

Mesmo que haja avanços, é um “método” que me incomoda muito e só o deixamos lá porque ele gosta de ir na natação – ainda que não confie mais no professor e cada vez faça menos coisas que ele pede – e porque é um momento dele ele e do pai e que os aproxima muito.

Nas últimas aulas do ano Miguel começou, a muito custo, a aceitar a boia de braço. Até então só aceitava o macarrão amarrado no peito. Negou-se terminantemente a usar os óculos. Mergulhar, só enganado. Pular na piscina, nem pensar!

Sinto que o professor talvez ache que somos responsáveis por esse suposto “fraco” desempenho do nosso filho, já que não o forçamos, não o ameaçamos, não o engamos nem o recompensamos.

Pois bem, chegado o recesso de final de ano viajamos pra cidade da minha mãe, onde fomos praticamente todos os dias pra piscina. Havia uma piscina cuja água batia no seu peito e ele curtiu muito nadar ali. Nadou comigo, com a avó e o namorado da avó, com os primos, que mergulharam muito, inclusive o que é da sua idade. Ganhou do namorado da avó uma bola de piscina – ele ama bolas – boias de braço e um óculos.

Voltando pra casa, no maior calor, fomos pra piscina com um amiguinho. Mais tarde chegaram dois meninos um pouco mais velhos, que moram no condomínio, e que ele admira muito. Os dois já chegaram dando “pulão” e se divertindo muito com aquilo. Miguel não teve dúvidas: quis dar pulão também. Não curtiu o primeiro, estava sem óculos. Colocados os óculos, deu mais de 50 pulos! E de novo, no dia seguinte, dezenas de pulos sem parar. De boias e óculos. Em cada pulo, um mergulho involuntário. Nadou até os lábios roxearem e começarem a tremer.

Estava tão confiante que, no fim da tarde fomos à praça do coco e ele se aventurou a descer da casinha de madeira pelo “cano de bombeiro”. Ele sempre quis descer por ali mas sempre me neguei a “ajudá-lo”. Dizia que ele poderia descer quando conseguisse, desde que sozinho. Pois não é que estávamos olhando de longe e, quando vimos, lá estava ele se agarrando ao cano com braços, mãos, pernas e pés e descendo sozinho! E repetiu o movimento muitas e muitas vezes!!!

Nós ficamos muito felizes de vê-lo assim, autônomo, fazendo o que tem vontade, acreditando em si.

Pra mim foi também uma lição, que na verdade eu já sabia, mas tem sempre uma ansiedade, uma dificuldade em aguardar e acreditar: ele fará o que quer quando estiver pronto. Nada de enganá-lo, obrigá-lo, recompensá-lo. Só o interesse genuíno é que moverá sua ação. E ela virá, porque ele, eu, nós todos somos capazes. Basta esperar e confiar.