Há alguns meses
percebemos que Miguel não se interessava mais pela piscina.
Diferente de antes, mesmo em momentos de calor, com adultos e
crianças na piscina, ele não tinha o menor interesse em entrar.
Conversando com
amigos desconfiamos de que a causa seria um caldo que ele tomou há
tempos, então o colocamos na natação. No primeiro dia ele não
quis entrar na piscina de jeito nenhum e só no fim da aula acabou
entrando, de roupa mesmo. Com o tempo, contudo, foi relaxando e
perdendo o medo inicial, mas longe de ser desprendido como as outras
crianças.
Apesar de não ser
uma escola de natação como outras que já vi, com metas (!) para
crianças aos 6, 12, 18, 24 meses, vejo que as estratégias para a
criança avançar não são muito diferentes, ou seja, o professor
muitas vezes engana o Miguel e o força a fazer coisas que ele
inicialmente não queria. E faz comparações com outras crianças
para convencê-lo.
Mesmo que haja
avanços, é um “método” que me incomoda muito e só o deixamos
lá porque ele gosta de ir na natação – ainda que não confie
mais no professor e cada vez faça menos coisas que ele pede – e
porque é um momento dele ele e do pai e que os aproxima muito.
Nas últimas aulas
do ano Miguel começou, a muito custo, a aceitar a boia de braço.
Até então só aceitava o macarrão amarrado no peito. Negou-se
terminantemente a usar os óculos. Mergulhar, só enganado. Pular na
piscina, nem pensar!
Sinto que o
professor talvez ache que somos responsáveis por esse suposto
“fraco” desempenho do nosso filho, já que não o forçamos, não
o ameaçamos, não o engamos nem o recompensamos.
Pois bem, chegado o
recesso de final de ano viajamos pra cidade da minha mãe, onde fomos
praticamente todos os dias pra piscina. Havia uma piscina cuja água
batia no seu peito e ele curtiu muito nadar ali. Nadou comigo, com a
avó e o namorado da avó, com os primos, que mergulharam muito,
inclusive o que é da sua idade. Ganhou do namorado da avó uma bola
de piscina – ele ama bolas – boias de braço e um óculos.
Voltando pra casa,
no maior calor, fomos pra piscina com um amiguinho. Mais tarde
chegaram dois meninos um pouco mais velhos, que moram no condomínio,
e que ele admira muito. Os dois já chegaram dando “pulão” e se
divertindo muito com aquilo. Miguel não teve dúvidas: quis dar
pulão também. Não curtiu o primeiro, estava sem óculos. Colocados
os óculos, deu mais de 50 pulos! E de novo, no dia seguinte, dezenas
de pulos sem parar. De boias e óculos. Em cada pulo, um mergulho
involuntário. Nadou até os lábios roxearem e começarem a tremer.
Estava tão
confiante que, no fim da tarde fomos à praça do coco e ele se
aventurou a descer da casinha de madeira pelo “cano de bombeiro”.
Ele sempre quis descer por ali mas sempre me neguei a “ajudá-lo”.
Dizia que ele poderia descer quando conseguisse, desde que sozinho.
Pois não é que estávamos olhando de longe e, quando vimos, lá
estava ele se agarrando ao cano com braços, mãos, pernas e pés e
descendo sozinho! E repetiu o movimento muitas e muitas vezes!!!
Nós ficamos muito
felizes de vê-lo assim, autônomo, fazendo o que tem vontade,
acreditando em si.
Pra mim foi também
uma lição, que na verdade eu já sabia, mas tem sempre uma
ansiedade, uma dificuldade em aguardar e acreditar: ele fará o que
quer quando estiver pronto. Nada de enganá-lo, obrigá-lo,
recompensá-lo. Só o interesse genuíno é que moverá sua ação. E
ela virá, porque ele, eu, nós todos somos capazes. Basta esperar e
confiar.