Terra Una foi nossa primeira parada.
Não foi fácil chegar, ou melhor, iniciar a viagem. Nosso plano era estar lá no
domingo (2/10) mas só conseguimos pegar a estrada na 2ª. E depois do almoço, o que nos
obrigou a dormir em Rezende.
No dia seguinte, já saindo de
Rezende, nos demos conta de que não havíamos abastecido. Após alguma hesitação,
retornamos para abastecer. Pra finalizar, atolamos uma vez e em outra tivemos a
ajuda de um trator para passar por uma parte difícil da estrada. Chegamos
apenas na 3ª.
Todos esses eventos, acredito,
revelam o medo que havia, pelo menos em mim, desse início da viagem. Toda
mudança mexe com cada qual. E eu temia uma vivência parecida com a que tivemos
no início da nossa primeira viagem.
Terra Una é uma comunidade iniciada
por amigos, muitos dos quais viviam no Rio de Janeiro há pouco mais de uma
década. Eram jovens vivendo em casas coletivas, com muitas ideias e vontade de
fazer diferente. E vem fazendo!
Encontraram essa terra enfiada no
sul de Minas Gerais. As primeiras construções foram espaços coletivos de
refeição e alojamento. Hoje já há pelo menos quatro casas de moradores e
algumas outras em construção.
Lolo em frente ao refeitório e cozinha comunitários |
Algumas casas de moradores |
O casal que nos recebeu estava lá
há pouco mais de um mês. São candidatos a viver na comunidade e, pelo que
entendi, há um processo seletivo relativamente longo para que se adquira o
direito de construir ali.
Conhecíamos um outro casal que se
mudou pra lá há cerca de um ano com seus dois filhos unschoolers e que nos
inspirou a ir e nos ajudou com as reservas.
Ficamos alojados na suíte, um
quarto com cama de casal e beliche além de banheiro com pia e chuveiro apenas.
Sim, pois os banheiros coletivos são secos, a maioria para o número 2. Somos
incentivamos a fazer o número 1 ao ar livre, no mato.
Diferente do que eu imaginava, há
poucas crianças vivendo ali. Atualmente são quatro, mas dão um bom caldo para
brincar e se relacionar.
Na chegada estava apenas Iuri, de 6
anos, por quem Miguel imediatamente se encantou e a quem dedicou toda a sua
lealdade pelo período em que estivemos lá. É tão interessante ver como se criam
as relações entre crianças a partir do meu próprio filho.
Vejo que há algumas
crianças, em especial meninos, que ele elege para seguir, admirar, com quem
quer estar o tempo todo. O que muitas vezes não é exatamente recíproco e lhe
causa frustrações.
Mas aí está o aprendizado. Nas
relações. No que sentimos. No que sentimos que o outro sente. Na forma como
nossos sentimentos se encontram e se desencontram. O quanto mudamos nosso
sentir e nossas atitudes a partir disso. Enfim, isso é viver, relacionar-se,
aprender.
Os primeiros dias foram de muita
tranquilidade e, claro, algum estranhamento interno. Uma busca interna por um
lugar de estar, por entender as relações na comunidade e me colocar, me
entender, entender meus sentimos em relação a mim, às novas pessoas com quem
estava me relacionando e à nossa família.
Pude superar as dificuldades
iniciais da viagem com rapidez. Não sem antes perder a paciência e a elegância
com Miguel algumas vezes. Mas minhas mudanças de humores foram por mim
rapidamente observadas, compreendidas e superadas, o que me deixou bastante
animada.
Logo outros moradores chegaram e assim
novas crianças: Luna, Henrique e Luíza completaram o time. Convivência,
brincadeiras e conflitos foram o natural cardápio dessas novas relações para
Miguel.
Lolo, por hora, é pura alegria
vital, puro encantamento. Encanta-se e encanta às pessoas com seu jeito
sorridente e saltitante.
Balanço pra dois no alto galho do eucalipto |
Amor pelo pula-pula |
Na trilha da cachoeira |
Algumas das lideranças da comunidade organizam cursos chamados Gaia Education e a metade de nossa estadia por ali foi compartilhada com um grupo de pessoas que vieram para uma imersão nesse curso. E novas crianças chegaram: Maria e Maria Clara.
Foi perceptível a mudança no
ambiente e nos hábitos. Se nos primeiros dias apenas algumas refeições eram
compartilhadas e nos ocupamos do café da manhã e jantar de nossa família,
agora, com o curso, todas as deliciosas refeições vegetarianas eram feitas em conjunto. Também
pudemos nos voluntariar na cozinha e no cuidado das crianças.
Se antes passamos vários momentos a sós, e pude estar exclusivamente com Miguel ou com Lolo, agora as crias estavam sempre juntas com outras e havia muitas pessoas para conhecer, conversar e trocar.
Aguardando o rango |
Algumes des cozinheires do dia |
Se antes passamos vários momentos a sós, e pude estar exclusivamente com Miguel ou com Lolo, agora as crias estavam sempre juntas com outras e havia muitas pessoas para conhecer, conversar e trocar.
O clima esteve frio na maior parte
do tempo, em especial nas noites, quando dormíamos com cobertores. A área, que
antes era de pasto, está reflorestada, o que contribui para uma temperatura
mais baixa. A maior parte do reflorestamento se deu por “inação”. Os moradores
e proprietários simplesmente não atrapalharam a natureza. Como havia áreas com
remanescentes de mata, a natureza fez o trabalho.
Há ali algumas hortas e plantações
e muita interação com a comunidade do entorno que fornece alimentos orgânicos e mão de
obra.
Foi um início de viagem auspicioso!
E com muita alegria e gratidão (e alguns carrapatinhos adquiridos na cachoeira) nos despedimos.
Encantada...
ResponderExcluirEncantada...
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