Uma coisa que
aprendi com a maternidade é que construímos a relação no agora. É
o que vivemos hoje que criará um passado agradável e saudoso, ou
não. É como vivemos hoje que criará um futuro saudável e
harmônico, ou não.
A nossa relação é
hoje. É aqui e agora. O surgimento de conflitos e a forma como o
solucionamos são fundamentais para que hoje seja um dia prazeroso,
que deixará saudades e resultará em pessoas seguras e relações
felizes.
Encaro meu filho
como alguém que tem vontades e desejos que são diferentes dos meus.
Por que a minha vontade, o meu desejo, deve prevalecer? Por que devo
brigar e obrigar meu filho a fazer o que eu quero? Por que devo
exigir que ele seja como eu espero e haja como eu idealizo?
Quando me dou conta
de que há uma outra pessoa com quem estou me relacionando,
independente de sermos mãe e filho, de eu ser mais forte do
que ele em muitos sentidos, passo a respeitá-lo de igual pra igual,
entendê-lo, incluí-lo, ouvi-lo. Isso faz toda a diferença pois que
nas situações em que uma mãe ou pai normalmente faria incidir sua
vontade, por bem ou por mal, eu paro e busco aceitar o que ele me
propõe.
Agora mesmo ele está
com a fralda cheia de cocô. Já há tempos não aceita mais trocá-la
com a facilidade de antes. Acredito ter relação direta com minhas
negativas em dar-lhe “mamá” e, recentemente, com o desmame total
pelo qual passamos. Ele também quer colocar seus limites. Esse é
um. Não quer trocar a fralda de cocô. E pronto.
É uma situação
muito difícil porque cheira mal, pode assar, vazar. Busco respeitar.
Confesso que já o peguei a força e foi terrível. Pra ele e pra
mim. Então, se posso esperar pelo seu tempo, faço isso para o bem
da nossa relação.
Houve um tempo em
que ele subia sozinho no carro mas não queria sentar-se em sua
cadeirinha. Preferia explorar o interior do carro. Por duas vezes ele
se negou terminantemente. Íamos à praça do coco. Eu disse que
estávamos indo pra lá, perguntei se queria ir, ele confirmou, eu
então disse que pra irmos ele precisaria sentar-se na cadeirinha.
Mas ele se negava. E não fomos! Eu me frustrei porque queria ir, pra
mim é também um programa muito prazeroso, mas não podia pegá-lo a
força, amarrar na cadeirinha e sair com ele chorando, agredido,
desrespeitado. A partir disso ele compreendeu que só saímos de
carro se ele se sentar na cadeirinha. E ele está muito mais
colaborativo com relação a isso.
Se há situações
em que ele não quer sentar na cadeirinha de forma alguma e temos que
ir a algum lugar, aviso que vou pegá-lo. Acredito que ele entenda
que é uma situação limite, então me diz que não o pegue, que ele
vai se sentar sozinho. São situações excepcionais. A regra é
aguardar seu tempo.
Ele percebe que suas
escolhas são respeitadas, mas que há situações em que vale a
minha palavra. Não porque sou sua mãe, porque mando nele,
porque ele deve me obedecer, mas porque tenho mais experiência do
que ele, cheguei antes nesse planeta e meu dever é cuidar dele.
Acontece o mesmo com
situações perigosas. Em geral somos, digamos, cuca fresca, deixamos
que ele se arrisque, se desafie, se supere. Estamos sempre junto,
atentos, observando suas aventuras. Mas há vezes em que a situação
é perigosa, entra no nosso limite do quanto queremos arriscar, e aí
colocamos o limite que, em geral, se dá de forma muito tranquila.
E assim, percebendo
o Miguel como um outro que tem desejos e vontades, aceitando isso,
flexibilizando, abrindo mão das minhas expectativas, podemos viver
de forma mais harmônica hoje, criando um passado e um futuro mais
felizes.
Lindo!
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