sábado, 24 de outubro de 2015

Mãos ocupadas


Há algum tempo, sempre que pedíamos algo pro Miguel: “filho, pega essa fraldinha aí pra eu limpar aqui”, ele dizia: “agora não posso, estou com minhas mãos ocupadas”, mesmo que não tivesse nada nas mãos, ou tivesse algo que, a nosso ver, pudesse ser colocado de lado, ou que uma das mãos estivesse livre.

Nesses momentos eu apenas dizia “tudo bem” e fazia eu mesma o que antes havia pedido a ele.

A primeira reflexão que fiz é que poderia ter justamente dito a ele: “mãos ocupadas nada, você não tem nada nas mãos” ou “você pode deixar isso aqui do lado e fazer o que te peço” ou qualquer outra coisa que deslegitimasse a vontade dele. E apesar de crer que as vezes fiz alguma careta, porque era uma situação em que eu realmente precisava de uma mão, sempre busquei respeitar o que ele dizia.

Ele estava de fato com as mãos ocupadas, não importa se imaginariamente ou não, mas ele não estava disponível pra me ajudar. E isso é legítimo!

Por que o meu julgamento do que é estar ou não disponível vale mais do que o do meu filho? Por que não posso aceitar que ele não pode me atender agora, ou que ele não QUER me atender agora? Ele não tem direito de se negar? De me dizer um não?

E aí vem a minha segunda reflexão: quantos “nãos” dizemos a ele diariamente? Quantas vezes ele tem que esperar a minha disponibilidade para fazer as coisas pra ele? Quantas vezes eu simplesmente me nego a fazer algo porque estou fazendo outra coisa que julgo mais importante, ou mais prioritária?

Aliás, de onde ele tirou a expressão “estou com minhas mãos ocupadas” senão da forma como nós, adultes, falamos com ele?


Por tudo isso, acho incrível ele poder dizer dessa maneira que não está disponível pra me ajudar. E eu poder estar disponível pra respeitar sua vontade.  

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