Há algum tempo,
sempre que pedíamos algo pro Miguel: “filho, pega essa fraldinha
aí pra eu limpar aqui”, ele dizia: “agora não posso, estou com
minhas mãos ocupadas”, mesmo que não tivesse nada nas mãos, ou
tivesse algo que, a nosso ver, pudesse ser colocado de lado, ou que
uma das mãos estivesse livre.
Nesses momentos eu
apenas dizia “tudo bem” e fazia eu mesma o que antes havia pedido
a ele.
A primeira reflexão
que fiz é que poderia ter justamente dito a ele: “mãos ocupadas
nada, você não tem nada nas mãos” ou “você pode deixar isso
aqui do lado e fazer o que te peço” ou qualquer outra coisa que
deslegitimasse a vontade dele. E apesar de crer que as vezes fiz
alguma careta, porque era uma situação em que eu realmente
precisava de uma mão, sempre busquei respeitar o que ele dizia.
Ele estava de fato
com as mãos ocupadas, não importa se imaginariamente ou não, mas
ele não estava disponível pra me ajudar. E isso é legítimo!
Por que o meu
julgamento do que é estar ou não disponível vale mais do que o do
meu filho? Por que não posso aceitar que ele não pode me atender
agora, ou que ele não QUER me atender agora? Ele não tem direito de
se negar? De me dizer um não?
E aí vem a minha
segunda reflexão: quantos “nãos” dizemos a ele diariamente?
Quantas vezes ele tem que esperar a minha disponibilidade para fazer
as coisas pra ele? Quantas vezes eu simplesmente me nego a fazer algo
porque estou fazendo outra coisa que julgo mais importante, ou mais
prioritária?
Aliás, de onde ele
tirou a expressão “estou com minhas mãos ocupadas” senão da
forma como nós, adultes, falamos com ele?
Por tudo isso, acho
incrível ele poder dizer dessa maneira que não está disponível
pra me ajudar. E eu poder estar disponível pra respeitar sua
vontade.
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