sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Mosaico de mim


Há seis anos iniciei uma viagem sem volta pra dentro de mim. Esse foi o principal efeito da maternidade. Essa avalanche me fez olhar cada vez mais profundamente para o meu interior.


Sempre fui uma pessoa para fora, para o mundo, para as relações, para os outros. Ter um ninho, uma casa, cuidar do dentro, acolher-me, tudo isso sempre esteve fora do meu campo de interesse e de ação.


Por isso, também, minhas referências sobre como conduzir minha vida sempre foram externas, vieram de fora, do outro, do que me parecia, sempre aos olhos dos outros, o melhor, o ideal a fazer naquele momento, o que está na moda, o que é pop.


Minhas referências internas, em algum momento provavelmente da infância, desapareceram, foram sabotadas, escondidas, subjugadas, abafadas, menosprezadas.


Nessa viagem que empreendi, inicialmente contra a minha vontade, venho compondo esse mosaico de mim mesma, descobrindo padrões, crenças, automatismos, modos de agir. Sobre um único fato da minha infância, a cada retorno, descubro uma nova causa, ou uma nova consequência. São tantas nuances sobre como funciono e o porque das minhas escolhas e maneiras de agir.


As ferramentas que tenho podido acessar me auxiliam na descoberta desse universo desconhecido que sou eu. Às vezes me sinto numa espiral em que as mesmas questões sempre voltam, mas de forma mais refinada. Estou sempre passando pelo mesmo lugar, ainda que de outra maneira.


A chave que se me abriu nesse momento de forma tão clara é o quanto sempre busco no outro todas, absolutamente todas as respostas. Uma falta de confiança na minha capacidade de avaliação e decisão que me levam a seguir o fluxo do que me parece ser o melhor a fazer aos olhos dos outros.


O que é ser bem sucedido nesse momento? O que é ser in? O que me torna uma pessoa interessante e bem quista aos olhos daqueles que estão no meu entorno, a quem admiro ou quero, de alguma forma, conquistar?


Tudo isso para preencher um vazio antigo e, talvez, eterno, uma carência extrema de amor, de ser amada, de ser querida, desejada, valorizada, admirada. Claro, sempre pelo outro.


Estratégias de funcionamento que descubro e pelas quais tantas vezes me envergonho.


A clareza que acessei ontem é também uma chave para uma insatisfação crônica que me acompanha desde sempre. É mais uma peça desse mosaico que venho descobrindo e que sou eu. Sou. E sigo.

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